sábado, 8 de setembro de 2018

Crianças também "descontam" emoções na comida, diz estudo e Usar a comida para acalmar seu filho pode levar à obesidade quando ele for mais velho


Você já recorreu à comida para aliviar sentimentos ruins?  Pois bem. Esse comportamento não é exclusividade dos adultos. Um estudo realizado nos Estados Unidos* revelou que as crianças também “descontam” suas emoções na comida. Ou seja, elas também buscam prazer ao comer. 

Para chegar a essa conclusão os pequisadores ofereceram quatro tipos de snacks a 91 crianças, na faixa etária entre 4 e 9 anos de idade. Separadas em grupos, elas assistiram a diferentes cenas da animação Rei Leão. Ao fim da exibição, os especialistas notaram que o tipo de clipe assistido influenciou diretamente as escolhas alimentares dos pequenos. A pesquisa detectou ainda que, quanto mais velha a criança, maiores as chances de sua alimentação ser influenciada pelos sentimentos.

Os grupos que comeram mais chocolate foram justamente os que assistiram a cenas tristes ou felizes. Enquanto isso, os que acompanharam trechos neutros preferiram biscoitos salgados. Mas por que as crianças tendem a preferir comidas mais calóricas quando são estimuladas emocionalmente? A nutróloga Liliane Oppermann explica que isso se deve a uma questão fisiológica: "Esses alimentos estimulam a liberação de neurotransmissores, como a serotonina, que ativam áreas do cérebro relacionadas ao prazer. Além de suprir a necessidade de nutrientes, algumas comidas também podem trazer sensação de recompensa".

Porém, como o próprio nome diz, a "fome emocional" não pode ser explicada apenas pela biologia. Para Rita Calegari, psicóloga da Rede de Hospitais São Camilo (SP), a alimentação impulsionada por emoções também está relacionada a fatores culturais. "Desde muito pequenos, somos ensinados que o ato de comer é prazeroso. A amamentação, por exemplo, é sinônimo de proteção e aconchego. Por isso é natural que as crianças também usem a comida como meio de buscar conforto".

Como minimizar os efeitos da fome emocional

Confira as dicas das especialistas para que seu filho desenvolva uma relação saudável com  a comida:

1. Dê o exemplo
A consciência alimentar começa com o exemplo dos pais. "Não podemos pensar que ao mudar a alimentação das crianças, o problema estará resolvido. Quando falamos em comer bem, vale a comparação com as máscaras de oxigênio dos aviões: precisamos primeiro nos proteger, para depois ajudar as crianças", explica a nutróloga Liliane Oppermann. 

2. Não compare os hábitos alimentares do seu filho aos de outras crianças
Se você tem mais de um filho, saiba que a relação que eles têm com a comida não será igual. Por isso, não faça comparações entre as crianças. As carências e as necessidades de cada uma precisam ser analisadas individualmente.

3. Não use a comida como moeda de troca
É comum que durante a infância os pais usem certos alimentos para "premiar" bons comportamentos. Essa forma de compensação pode ser um problema. Quando isso se torna um hábito, a saúde é afetada e distúrbios como a obesidade podem aparecer. Lembre-se sempre: a comida não deve ser sinônimo de recompensa emocional, ela serve apenas para matar a fome.

4. Explique a diferença entre desejo e necessidade
Para um adulto, é fácil perceber quando a fome têm origem emocional. No caso das crianças, a lógica não é tão simples assim. "Precisamos explicar que necessidade e desejo são coisas bem diferentes. A necessidade é um pedido do corpo por comida, enquanto o desejo é um luxo que traz sensação de contentamento", confirma a psicóloga Rita Calegari.

*O estudo foi desenvolvido em conjunto pelas universidades do Texas, de Michigan e do Leste do Michigan. 


Usar a comida para acalmar seu filho pode levar à obesidade quando ele for mais velho

O bebê nasce e uma das maiores preocupações dos pais é em relação ao peso. Será que está mamando o suficiente? Os meses passam e chega a tão esperada introdução alimentar. É hora de variar o cardápio e oferecer os alimentos preparados de diferentes maneiras. À medida em que os bebês ficam maiores e passam a entender que são seres diferenciados das mães surgem as descobertas e as “birras”, que acontecem porque as crianças ainda não têm maturidade suficiente para lidar com uma determinada frustração e acabam explodindo. Essa explosão vem em forma de choro incontrolável, gritos e aquela movimentação intensa difícil de conter. E é aí que mora o perigo: muitos pais já perceberam que oferecer um alimento que a criança gosta no exato momento da irritação ajuda a acalma-la, e isso passa a ser um hábito.

No entanto, essa calma, mantida à base de comida, pode até resolver o problema na hora, mas os riscos a longo prazo podem ser ainda maiores, já que afetam seus hábitos alimentares e podem levar a um ganho de peso excessivo no futuro. É o que sugere o estudo publicado pelo International Journal of Obesity, que examinou dados de 160 pares de mães e bebês.

Os pesquisadores estudaram como as mães acalmavam seus bebês aos seis meses e fizeram um acompanhamento desses bebês por um ano. Eles descobriram que certos bebês, cujas mães se voltavam para a comida com mais frequência para acalmá-los, tendiam a ganhar mais peso. Uma das autoras do estudo, Cynthia Stifter, disse ao site Science Daily que usar o alimento como calmante tende a tornar os bebês mais propensos a comer por falta do que precisam quando forem mais velhos. Segundo a pesquisadora, que também é professora de desenvolvimento humano e psicologia, comer é prazeroso, por isso, ao crescer tendo os alimentos como forma de calmante aumenta as chances de eles procurem pela comida na hora de resolver outras questões no futuro.

O estudo foi baseado em pesquisas anteriores que encontraram uma conexão entre temperamento de urgência e índice de massa corporal mais alto (e maior ganho de peso), e mostrou também como o temperamento de uma criança pode afetar o estilo de parentalidade da mãe e do pai.

"Quando os bebês respondem às coisas de uma determinada maneira, os pais percebem isso. Então, de muitas maneiras, o comportamento do bebê está influenciando o comportamento dos pais.” Na prática, significa que o bebê já espera receber um alimento em determinadas situações de choro, irritação e “birra”, e que os pais, por sua vez, já sabem que a comida irá acalma-los. Usando-a como estratégia quando outros métodos não funcionam tão bem assim.

A especialista também disse esperar que os resultados do estudo possam informar programas para educar os pais sobre o temperamento de seus filhos, e como isso pode afetar outros aspectos da vida, tanto para os pais quanto para os filhos.

Seja o exemplo, sempre

Pode até parecer mais fácil (e de fato ser!) manter o seu filho quieto quando ele está comendo algo que gosta. Mas, como vimos acima, esse comportamento pode estimular problemas maiores quando ele já estiver grande. A nutricionista infantil Karine Costa Durães, nutricionista especialista em pediatria pelo Instituto da Criança, da Faculdade de Medicina da USP, explica que quando a criança começa sua história com alimentação, ela imita o que os adultos fazem. “Então, se ela está irritada porque não quer ficar na cadeirinha e ganha comida para ficar calma, o recado que ela recebe é que ela pode acalmar as angústias com a alimentação. E esse recado fica, de certa forma, memorizado na criança para quando ela for adulta." Assim, aumentam as chances dela recorrer à comida para continuar resolvendo suas questões e frustrações.

Como virar esse jogo?

A nutricionista infantil recomenda que, antes de qualquer mudança, tanto os pais quanto a criança tenham uma rotina alimentar estabelecida. “O ideal é que a criança faça entre cinco a seis refeições diárias, sendo três refeições principais e os lanches intermediários”, diz. E no intervalo dessas refeições, ou seja, quando a criança não está comendo por uma questão biológica, ela deve manter o foco em outras atividades, especialmente nas brincadeiras. Se a criança já está acostumada a ganhar um petisco, uma bolacha ou snack, por exemplo, para poder se acalmar, seja qual for a situação, é preciso ir, aos poucos, retirando esse hábito. “Nomear o que ela está sentindo também é importante, pois assim você procura as soluções de acordo com as reais necessidades. Se ela está cansada, diga a ela: “você está cansada e, por isso, está irritada. Vamos descansar um pouco aqui comigo”, orienta. Claro que nem sempre será possível achar uma solução para cada caso. E pode ser também que a criança não aceite tão facilmente a mudança de comportamento, mas é importante que ela comece a perceber que a comida não é moeda de troca.

Diferenciar a fome real da emocional também é importante

A nutricionista orienta que, a partir dos 2 anos, quando a criança já começa a entender um pouco mais sobre ela mesma, os pais ou responsáveis comecem a perguntar se ela está satisfeita com a refeição (por exemplo: a barriguinha está satisfeita, filho? Você ainda está com fome ou já comeu o suficiente?), assim, ela vai conhecendo o próprio corpo, a fim de diferencial a fome real da emocional.

Porém, vale ressaltar que, como o próprio nome diz, a "fome emocional" tem como pano de fundo fatores culturais: "Desde muito pequenos, somos ensinados que o ato de comer é prazeroso. A amamentação, por exemplo, é sinônimo de proteção e aconchego. Por isso é natural que as crianças também usem a comida como meio de buscar conforto", lembra a psicóloga Rita Calegari, da Rede de Hospitais São Camilo (SP).

“Ao dar um snack ou qualquer outro tipo de alimento para a criança comer porque ela está frustrada, estamos ajudando-a a fazer uma confusão entre a fome real e emocional", diz a nutricionista. E se para um adulto é fácil perceber quando a fome têm origem emocional, no caso das crianças, a lógica não é tão simples assim. "Precisamos explicar que necessidade e desejo são coisas bem diferentes. A necessidade é um pedido do corpo por comida, enquanto o desejo é um luxo que traz sensação de contentamento", confirma a psicóloga Rita Calegari. Por fim, vale ressaltar que o comer emocional, além de não resolver o problema, vai induzir a um comportamento que pode favorecer a obesidade quando ela for maior, ou alguma ligação com os distúrbios alimentares e outros problemas de saúde. 

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